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Relatório da ONU aponta piora em indicadores de fome no Brasil por conta do alto custo da alimentação saudável

Inflação, juros altos e dívida pública limitam capacidade de financiamento e podem comprometer meta de erradicar a fome até 2030

Um relatório divulgado nesta segunda-feira (28) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revela que o Brasil piorou em oito dos 11 indicadores alimentares avaliados, mesmo com a saída oficial do país do Mapa da Fome. O estudo, intitulado Food Security and Nutrition in the World 2025, destaca que o aumento do custo de uma dieta saudável tem dificultado o acesso à alimentação de qualidade para parcelas significativas da população.

De acordo com o relatório, o custo diário de uma dieta saudável no Brasil subiu de US$ 3,15 para US$ 4,89 por pessoa. Apesar disso, houve avanço na proporção de brasileiros capazes de arcar com esse custo: em 2017, eram 72,9%; em 2024, o número subiu para 76,3%. O pior cenário foi registrado em 2021, durante a pandemia, quando 29,8% da população não tinha condições financeiras de manter uma dieta saudável.

Ainda segundo os dados, a insegurança alimentar grave teve um salto preocupante: passou de 0,7% no biênio 2014-2016 para 3,4% no período de 2022-2024. Outros indicadores também apresentaram piora:

  • Crianças com peso abaixo do esperado: 3,4%
  • Risco de má nutrição infantil: de 6,6% (2012) para 8,9% (2024)
  • Obesidade infantil: de 7,7% para 10,9%
  • Obesidade em adultos (acima de 18 anos): de 19,1% para 28,1%
  • Recém-nascidos abaixo do peso: de 8,3% para 8,7%

Apesar do cenário preocupante, o país apresentou melhorias em alguns pontos. A prevalência de desnutrição caiu de 5,7% em 2004 para 2,5% em 2024. Também houve avanços no índice de aleitamento materno exclusivo entre bebês de 0 a 5 meses, que subiu de 38,6% para 45,8%. Já o risco de anemia em mulheres recuou levemente, de 21,5% para 21,3%.

Inflação e dívida pública comprometem combate à fome

O relatório da ONU destaca ainda que a combinação entre os efeitos econômicos da pandemia, o aumento da inflação e o consequente aperto monetário — com elevação das taxas de juros — tem comprometido a capacidade dos países em desenvolvimento de financiar políticas públicas essenciais, incluindo as de segurança alimentar.

“No início do período inflacionário, países de baixa e média renda, como Brasil, Chile e México, lideraram o ciclo de aperto monetário. Isso foi uma resposta aos aumentos rápidos nos preços dos alimentos, pressões salariais e expectativas de inflação desancoradas”, aponta o documento.

Ainda segundo o relatório, o endividamento desses países cresceu a uma taxa duas vezes maior do que nas economias avançadas. Em 2023, as nações de baixa e média renda passaram a representar 30% da dívida global — ante 16% em 2010. Como consequência, 3,3 bilhões de pessoas vivem hoje em países que gastam mais com o pagamento de juros da dívida pública do que com educação ou saúde.

Esse cenário, segundo a FAO, representa uma ameaça direta ao cumprimento da meta global de erradicar a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição até 2030.

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