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Astrônomos descobrem estrela morta emitindo pulsos de rádio enigmáticos na Via Láctea

Cientistas identificaram a origem de um misterioso “batimento cardíaco” cósmico que pulsa a cada duas horas dentro da Via Láctea. O fenômeno, detectado há cerca de uma década, consiste em explosões de rádio longas que duram entre 30 e 90 segundos e pareciam vir da região da constelação Ursa Maior.

Agora, um estudo publicado na revista Nature Astronomy revelou que esses sinais são emitidos por um sistema binário composto por uma estrela anã branca e uma anã vermelha fria. As duas estrelas orbitam uma à outra em uma distância tão próxima que seus campos magnéticos interagem, gerando o que os cientistas chamam de transiente de rádio de longo período (LPT, na sigla em inglês).

Descoberta inédita

Até então, os LPTs eram atribuídos apenas a estrelas de nêutrons, que são os densos remanescentes de supernovas. Essa nova descoberta prova que outros sistemas estelares também podem produzir esse tipo de sinal de rádio raro.

“Estabelecemos pela primeira vez quais estrelas produzem os pulsos de rádio nessa nova classe misteriosa de transientes de rádio de longo período”, afirmou a Dra. Iris de Ruiter, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Sydney, na Austrália.

Os astrônomos usaram o Low-Frequency Array Telescope (LOFAR), um dos maiores conjuntos de radiotelescópios do mundo, para analisar dados históricos. A partir dessas informações, de Ruiter e sua equipe detectaram seis pulsos de rádio vindo de uma anã vermelha fraca a aproximadamente 1.600 anos-luz da Terra.

Uma dança estelar magnética

Para confirmar a origem dos sinais, os pesquisadores realizaram novas observações com telescópios no Arizona e no Texas, nos Estados Unidos. Eles perceberam que a anã vermelha estava oscilando no espaço, o que indicava a presença de uma estrela companheira invisível.

Os cálculos mostraram que essa estrela era uma anã branca, que completava uma órbita em torno da anã vermelha a cada 125,5 minutos. Durante esse movimento, a intensa interação magnética entre as duas estrelas gerava os pulsos de rádio detectados na Terra.

“Estamos começando a encontrar mais desses LPTs em nossos dados, e cada descoberta nos ensina algo novo sobre esses fenômenos astrofísicos extremos”, afirmou o Dr. Kaustubh Rajwade, da Universidade de Oxford.

O mistério dos pulsos cósmicos

Os cientistas ainda não sabem ao certo por que esses pulsos acontecem. Eles acreditam que as emissões podem ser causadas por um campo magnético forte da anã branca, que libera energia de maneira periódica, ou pela interação direta entre os campos magnéticos das duas estrelas.

A equipe planeja continuar monitorando o sistema para descobrir mais detalhes sobre sua atividade. “No momento, os pulsos de rádio desapareceram completamente, mas podem voltar mais tarde”, disse de Ruiter.

Os astrônomos acreditam que novas descobertas podem ajudar a entender melhor os diferentes tipos de sinais de rádio no universo — e até mesmo revelar pistas sobre possíveis sinais de vida inteligente, um objetivo do Instituto SETI.

“Estamos apenas arranhando a superfície desse fenômeno. Vasculhar o céu com radiotelescópios nos levará a descobertas ainda mais incríveis”, concluiu a astrônoma Natasha Hurley-Walker, da Universidade Curtin, na Austrália.

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