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Supermercado no Piauí é investigado por lavagem de R$ 7,4 milhões de empresa pública do DF, aponta Gaeco

Esquema envolveria ex-diretor financeiro da Novacap, familiares e políticos; valores teriam sido ocultados com uso de empresas de fachada, depósitos em espécie e até favores a servidores públicos

Uma investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), identificou um esquema de corrupção sistêmica que teria desviado ao menos R$ 7,4 milhões da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), com parte dos valores sendo lavada por meio de um supermercado no município de Batalha, no interior do Piauí.

Segundo reportagem da colunista Mirelle Pinheiro, do portal Metrópoles, publicada nesta quarta-feira (30), o principal operador do esquema seria o ex-diretor financeiro da Novacap, Francisco José da Costa, que usava uma rede familiar e empresarial para movimentar valores de origem ilícita, abastecer contratos fraudulentos e distribuir propinas entre servidores e agentes públicos.

Supermercado como fachada

De acordo com o Gaeco, o Supermercado O de Casa, localizado em Batalha (PI), de propriedade da esposa de Francisco, Maria Bernadete Machado, foi utilizado como fachada para movimentações financeiras suspeitas. O Coaf detectou depósitos em espécie que somaram mais de R$ 7,4 milhões em pouco mais de um ano — volume considerado incompatível com a economia local de uma cidade com pouco mais de 26 mil habitantes.

As irmãs do ex-diretor, Emiliane Ferreira da Costa e Maria Emília Neta do Nascimento, também estão envolvidas. Segundo o MPDFT, elas atuavam na movimentação e pulverização dos valores ilícitos, recebendo propinas e repassando os recursos a outros integrantes do esquema. Apenas essa parte da operação teria movimentado cerca de R$ 935 mil.

Mensagens revelam estrutura de comando

Mensagens extraídas de celulares apreendidos revelam o grau de controle exercido por Francisco José. Em conversas pelo WhatsApp, ele dava ordens diretas às irmãs, como a realização de transferências para contas de servidores da Novacap. Em outro trecho, orientava que não mencionassem nomes nas transações: “Não precisa falar nome!!”.

Também foram identificados sinais codificados usados nas conversas, como “vamos tomar um café” ou “entregar documentos”, que, segundo os investigadores, indicavam encontros para entrega de dinheiro vivo.

Em uma das situações, Francisco enviou uma foto do porta-malas aberto de seu carro, um Toyota Corolla, onde o dinheiro da propina seria depositado. Durante a Operação Alta Conexão, foram encontrados R$ 329.340 em espécie em sua residência.

Empresas de fachada e contratos públicos

O esquema também contava com empresas fictícias, criadas com o objetivo de emitir notas fiscais e receber repasses. Um dos exemplos é a DM & Castro Engenharia, em nome do servidor Aurélio Rodrigues de Castro, sediada na própria casa dele. A empresa foi aberta apenas sete dias antes de receber R$ 69 mil de uma empreiteira envolvida no cartel.

Aurélio só foi registrado como representante bancário dois dias antes da transação, o que, segundo o Gaeco, evidencia o uso da empresa como fachada para a lavagem.

Apoio político: a “25ª deputada”

Outra peça-chave do esquema seria Ivoneide Souza Machado Andrade Oliveira, então secretária da Comissão de Economia, Orçamentos e Finanças (CEOF) da Câmara Legislativa do DF, apelidada no relatório como a “25ª deputada”. Ela teria atuado como facilitadora do cartel, ajudando a destravar emendas parlamentares que abasteciam os contratos da Novacap.

Ivoneide trocava favores, presentes e recursos pessoais por apoio político. Em mensagens interceptadas, ela solicita “ajuda” de R$ 15 mil e, em seguida, envia documentos sobre a liberação de R$ 1,2 milhão para a estatal, evidenciando sua influência direta no esquema.

Corrupção sistêmica

O Gaeco classifica o caso como corrupção sistêmica, com uma organização altamente estruturada, envolvendo empresários, servidores públicos, políticos e familiares. Para os investigadores, Francisco José agia como um “chefe mafioso”, articulando interesses e utilizando diferentes mecanismos para manter o funcionamento do cartel sob uma aparência de legalidade.

As investigações continuam em andamento, e o Ministério Público busca agora identificar o destino dos recursos e outros beneficiários do esquema.

Os citados na reportagem foram procurados pela colunista Mirelle Pinheiro, mas não se manifestaram até a publicação da matéria.

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