Piauí tem “deserto vermelho” que parece Marte e abriga tesouros arqueológicos milenares
No sudeste do Piauí, uma paisagem de tons avermelhados intensos e formações rochosas esculpidas pelo tempo remete ao planeta Marte. Estamos falando do Parque Nacional Serra da Capivara, área protegida que guarda não só um cenário geológico de tirar o fôlego, mas também o mais rico acervo de arte rupestre das Américas.
Popularmente conhecido como “Deserto Vermelho”, o local não é um deserto no sentido climático. Trata-se de uma região semiárida, parte do bioma Caatinga, marcada por arenitos de coloração ocre-avermelhada, rica em óxidos de ferro. A combinação de solo seco, vegetação rala e luz solar intensa cria um visual marcante que impressiona visitantes e pesquisadores.
Geologia de outro mundo no sertão
A paisagem atual da Serra da Capivara é resultado de milhões de anos de transformações geológicas. A base do terreno é formada por rochas cristalinas do Pré-Cambriano, sobre as quais se depositaram, durante a era Paleozoica, camadas de arenito, siltito e conglomerado. Ao longo do tempo, movimentos tectônicos elevaram essas estruturas e a erosão esculpiu chapadas, cânions e formações icônicas — como a famosa Pedra Furada.
A tonalidade vermelha característica vem dos arenitos da Formação Ipu, onde a presença de ferro oxidado intensifica os matizes flamejantes da paisagem, principalmente nos meses mais secos do ano.

Um oásis de história e biodiversidade
Embora o visual lembre paisagens extraterrestres, a região é um refúgio da biodiversidade típica da Caatinga. A vegetação muda drasticamente conforme as estações: exuberante no período das chuvas (de janeiro a julho) e mais seca, com predominância de tons avermelhados, entre agosto e novembro.
Além da beleza natural, o parque abriga um dos mais importantes patrimônios arqueológicos do planeta. Reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1991, a Serra da Capivara possui mais de mil sítios arqueológicos, com pinturas rupestres que podem ter até 60 mil anos — segundo estudos liderados pela arqueóloga Niède Guidon. As descobertas desafiam teorias tradicionais sobre o povoamento das Américas.
Turismo consciente e trilhas históricas
O parque oferece roteiros turísticos variados, como os circuitos da Serra Vermelha e do Boqueirão da Pedra Furada, com trilhas que levam a mirantes, cânions e sítios arqueológicos. A visitação exige acompanhamento de guias credenciados, medida que garante segurança e preservação do local.
A melhor época para explorar o parque depende do gosto do visitante: o período chuvoso oferece clima mais ameno e vegetação verdejante, enquanto a estação seca destaca as cores vibrantes do arenito e dá ao parque sua aparência “marciana”.
Patrimônio do Brasil e da humanidade
Mais do que um destino turístico, o “Deserto Vermelho” do Piauí representa um capítulo crucial da história humana e natural. É um lugar onde o passado remoto da Terra se encontra com vestígios dos primeiros habitantes das Américas, em um cenário de beleza ímpar e significado histórico profundo.
A Serra da Capivara não é só um espetáculo visual — é um convite à reflexão sobre nossas origens e à urgência da preservação de um dos maiores patrimônios culturais e ambientais do Brasil.