PF e Receita investigam uso da Faria Lima pelo PCC para movimentar bilhões
A Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo (MPSP) deflagraram, nesta quinta-feira (28), três operações contra um esquema financeiro atribuído ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo as investigações, a facção criminosa utilizava fundos de investimento e empresas financeiras situadas na avenida Faria Lima, principal centro financeiro de São Paulo, para lavar, ocultar e blindar recursos oriundos do tráfico de drogas e do setor de combustíveis.
Mandados e prisões
Foram expedidos 14 mandados de prisão, dos quais seis pessoas já haviam sido presas até o início da tarde. Ao todo, 42 endereços foram alvo das ações.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a operação como a “maior resposta do Estado brasileiro ao crime organizado de nossa história”. Já o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que se trata da maior ofensiva já realizada contra facções criminosas no país.
Esquema bilionário
De acordo com a Receita Federal, o PCC movimentava o setor de combustíveis em quatro etapas:
- Importação – empresas financiadas pela facção compravam combustível no exterior.
- Distribuição e venda – os produtos eram comercializados em redes de postos controladas pela organização, com sonegação de impostos e até adulteração de gasolina.
- Lavagem de dinheiro – postos, padarias e lojas de conveniência eram usados para “esquentar” recursos ilícitos.
- Blindagem patrimonial – fundos de investimento eram utilizados para ocultar bens e ampliar os lucros da facção.
A Receita estima que só o setor de combustíveis tenha gerado uma perda de arrecadação de R$ 8,67 bilhões. O PCC teria utilizado cerca de mil postos em 10 estados para escoar o dinheiro, incluindo São Paulo, Bahia, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Fintechs e fundos na mira
As investigações apontam que fintechs também foram usadas para ocultar recursos, por meio de mecanismos como a chamada “conta bolsão”, que mistura dinheiro de diversos clientes em uma única conta. Entre as instituições citadas está o BK Bank, apontado como “buraco negro” financeiro por dificultar o rastreamento dos valores.
Na etapa de blindagem patrimonial, a facção teria usado 40 fundos de investimento com um patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. Com esses recursos, foram adquiridos 1,6 mil caminhões, um terminal portuário, quatro usinas de álcool, cerca de 100 imóveis — incluindo fazendas no interior de São Paulo e uma mansão em Trancoso (BA).
Uma das empresas investigadas é a Reag Investimentos, que afirmou estar colaborando com as autoridades e negou envolvimento com atividades ilegais.
Impacto no sistema financeiro
Para a Receita Federal, as apurações revelam o grau de infiltração do crime organizado na economia brasileira.
“Percebemos uma invasão do crime organizado na economia real e no mercado financeiro”, afirmou Andrea Costa Chaves, subsecretária da Receita.
Ela ressaltou que a operação reforça a necessidade de maior fiscalização sobre fintechs e fundos de investimento.
Operações integradas
As ações foram batizadas de Carbono Oculto, Quasar e Tank. A primeira foi conduzida em parceria com o MPSP, enquanto as duas últimas ficaram a cargo da PF e da Receita Federal.
As autoridades classificam a ofensiva como um marco no enfrentamento ao crime organizado, ao atingir a estrutura financeira da maior facção criminosa do país.