Nísia Trindade denuncia misoginia em discurso de despedida do Ministério da Saúde
Em uma cerimônia realizada nesta segunda-feira (10), no Palácio do Planalto, a ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade, denunciou ter sido alvo de uma “campanha sistemática e misógina” durante os 25 meses em que esteve à frente da pasta. A declaração foi feita durante a posse do novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.
“Durante os 25 meses em que fui ministra, uma campanha sistemática e misógina ocorreu para desvalorizar meu trabalho, minha capacidade e minha idoneidade. Não é possível e não devemos aceitar como natural um comportamento político dessa natureza”, afirmou Trindade.
A ex-ministra também destacou a necessidade de uma nova política baseada no respeito e no diálogo, enfatizando a importância da valorização das mulheres na gestão pública.
Saída do Ministério e pressões políticas
A permanência de Nísia Trindade no comando do Ministério da Saúde tornou-se incerta nos últimos meses, especialmente durante a crise sanitária provocada pela epidemia de dengue, que registrou mais de 6,5 milhões de casos no início de 2024. Em meio a pressões políticas e críticas sobre a gestão da crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou pela substituição da ministra no final de fevereiro.
Desafios enfrentados e reconstrução do SUS
Ao relembrar sua trajetória no Ministério, Trindade ressaltou os desafios encontrados desde o início de sua gestão, em 2023. Segundo ela, a pasta estava “desmontada e desacreditada” após a pandemia de covid-19 e a gestão anterior.
“Presidente Lula, como é de seu conhecimento, encontrei um Ministério da Saúde desmontado e desacreditado. Ele perdera sua autoridade de coordenar o SUS após a terrível experiência das 700 mil mortes por covid-19 no governo passado”, declarou a ex-ministra.
Ela destacou ainda problemas estruturais herdados, como mais de 4.500 Unidades Básicas de Saúde (UBS) aguardando credenciamento, mais de 4 mil obras paralisadas e leitos de UTI não cadastrados. Para Trindade, a melhoria da saúde pública passa pelo enfrentamento da pobreza e da desigualdade, através de políticas públicas efetivas.
Homenagens e novo comando no Ministério da Saúde
Antes de deixar oficialmente o cargo, a ex-ministra foi homenageada no Ministério da Saúde, onde teve seu retrato incluído na galeria de ex-ministros. A cerimônia simbólica contou com a presença de servidores e manifestações de apoio a Trindade.
Com sua saída, Alexandre Padilha assume o Ministério da Saúde, tendo pela frente desafios como o combate à dengue e a continuidade das políticas de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).