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Montanhas de milho a céu aberto revelam caos logístico e pressionam preços na colheita da segunda safra

Déficit de armazenagem, excesso de oferta e juros altos desafiam produtores em meio à colheita no Centro-Oeste

Em pleno avanço da colheita da segunda safra de milho — a principal do calendário agrícola nacional — imagens de montanhas do grão armazenadas a céu aberto voltam a preocupar o setor. No Centro-Oeste, produtores enfrentam gargalos logísticos severos e falta crônica de infraestrutura, o que os obriga a vender o produto com preços pressionados, mesmo diante da baixa rentabilidade.

Segundo o Notícias Agrícolas, o déficit de armazenagem no Brasil já atinge 120 milhões de toneladas, expondo produtores a perdas bilionárias e colocando o setor em alerta. A situação se agrava com a chegada do Plano Safra 2025/26, que trouxe taxa de juros de 8,5% ao ano no PCA (Programa de Construção de Armazéns), considerada alta para estimular novos investimentos, como destacou Paulo Bertolini, presidente da Abramilho e da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG).

“Estamos vivendo um ciclo de perdas. Mesmo com um potencial fantástico de produção, o milho sofre com preços achatados e problemas logísticos recorrentes”, afirma Bertolini.

As dificuldades se intensificam com a sobreposição de safras: os silos ainda estão ocupados pela soja, o que obriga muitos produtores a armazenar o milho ao ar livre, enfrentando riscos climáticos. Em Mato Grosso, chuvas recentes agravaram a situação, prejudicando a qualidade do grão.

Além dos silos, a estrutura logística necessária para secagem, classificação e transporte também é considerada insuficiente e subfinanciada. O resultado, segundo Bertolini, é uma corrida pela venda imediata do milho, o que derruba ainda mais os preços.

“A indústria, sem alternativa, tem investido em armazenagem — o que não é seu foco — e precisa comprar milho barato para justificar o custo do estoque, muitas vezes financiado com juros da Selic, hoje em 15%”, explica.

De acordo com Gilberto Leal, head de commodities da Granel Corretora, o mercado doméstico segue lento. Apesar de alguma recuperação nos preços nesta semana, com contratos de setembro sendo negociados entre R$ 43 e R$ 44, o valor ainda não cobre os custos para muitos produtores.

Outra estratégia adotada por parte dos agricultores tem sido o uso de silo bags para estocar o restante da produção. Com preços de mercado em torno de R$ 40 no spot, o custo de recepção e armazenagem formal desestimula o armazenamento tradicional.

“Tem produtor com 50% a 60% da produção vendida. O restante está indo para o bag, que tem um custo menor”, explica Leal.

A pressão logística já reflete nos custos de frete, afetando também a comercialização da soja, que ainda não foi totalmente escoada. Em Rondonópolis (MT), uma empresa no terminal local suspendeu as cotas de recebimento de soja para priorizar o milho até o final da semana.

“Quem tem contratos fechados está entregando. O restante aguarda melhores oportunidades ou vende por necessidade de caixa e espaço”, finaliza Leal.

Com perspectivas incertas, o cenário exige atenção redobrada dos produtores, da indústria e do governo para evitar perdas ainda maiores e melhorar a infraestrutura agrícola do país.

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