Lula orienta aliados a confrontar Centrão após derrotas no Congresso
Após uma série de derrotas no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu mudar de estratégia e instruiu ministros e aliados a adotar um discurso mais firme contra o Centrão e a oposição. A decisão veio após o Congresso derrubar, sem aviso prévio ao Planalto, o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) proposto pelo governo para operações de câmbio e crédito.
Segundo interlocutores próximos, Lula avalia que não pode mais contar com o apoio da base parlamentar e, por isso, buscará disputar a opinião pública. A ordem é explicitar que o governo defende a taxação de bilionários, bancos e apostas online para custear programas sociais e aliviar a carga tributária dos mais pobres. A narrativa será de que os opositores, inclusive parlamentares de partidos aliados, resistem à justiça tributária e protegem privilégios.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido incentivado a assumir a linha de frente desse embate. Em entrevista recente, ele afirmou que está “para enfrentar os 140 mil super-ricos” e “fazer justiça tributária”. A fala reflete a orientação direta de Lula para que a equipe econômica reforce publicamente o compromisso do governo com políticas de inclusão e progressividade fiscal.
A crise se aprofundou quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), colocou em pauta a revogação do aumento do IOF sem qualquer comunicação prévia com o Executivo. A votação, conduzida com rara agilidade e apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), foi vista como um gesto de deslealdade – não só com Haddad, mas com o próprio Lula, que teria autorizado previamente o apoio a Motta para o comando da Casa.

O episódio expôs o esvaziamento do poder de articulação do governo e acendeu um alerta no Planalto. Entre governistas, cresceu a percepção de que o Congresso pode se tornar um obstáculo quase intransponível para a aprovação de pautas econômicas e sociais até 2026.
Apesar da nova estratégia de enfrentamento narrativo, Lula orientou que parte de sua base adote cautela para evitar um rompimento definitivo com o Legislativo. O temor é de que o acirramento do clima político leve a um cenário semelhante ao que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.
Além da disputa por protagonismo na agenda econômica, a tensão envolve a liberação de emendas parlamentares, que tem sido dificultada por decisões do STF e pela falta de articulação de Motta com a base. Governistas acusam o presidente da Câmara de ceder à influência de nomes como Arthur Lira (PP-AL), Eduardo Cunha e Ciro Nogueira (PP-PI), arquitetando um isolamento político do Planalto.
A aposta agora é usar o debate sobre taxação de grandes fortunas como bandeira popular, com potencial de mobilizar redes sociais e pressionar parlamentares. Para Lula, essa é uma batalha de narrativa – e de sobrevivência política.
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