Irã acusa EUA de cumplicidade em ataque israelense e suspende negociações nucleares
O governo do Irã suspendeu oficialmente as negociações com os Estados Unidos sobre seu programa nuclear após os ataques de Israel a instalações nucleares iranianas. Em pronunciamento, autoridades iranianas acusaram os EUA de serem cúmplices diretos das ofensivas israelenses, que ocorreram durante as tratativas diplomáticas previstas para o domingo (15), em Omã.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baqaei, declarou que “não faz sentido negociar com o principal cúmplice da agressão contra Teerã”. Ele afirmou que os EUA apoiaram diretamente o ataque, inclusive contra instalações nucleares de uso pacífico.
O chanceler iraniano, Seyyed Abbas Araghchi, reforçou a acusação e alegou que há “provas substanciais” de que forças e bases americanas auxiliaram o ataque israelense. “Temos evidências sólidas, além das declarações públicas do presidente dos EUA em apoio ao ataque”, disse Araghchi.
Crise de confiança e riscos para a segurança regional
Segundo o analista geopolítico Robinson Farinazzo, os ataques minaram a confiança entre os envolvidos nas negociações. “Mesmo que a guerra acabe agora, a confiança foi quebrada. Isso pode acelerar a nuclearização do Oriente Médio”, alertou. Para ele, se o Irã desenvolver armas nucleares, países como Arábia Saudita e Turquia podem seguir o mesmo caminho.
Apesar da suspensão, o Irã afirma manter sua disposição em mostrar que seu programa nuclear tem fins pacíficos. Araghchi explicou que, na sexta rodada de negociações, o país estava pronto para apresentar uma proposta concreta aos EUA.
Resposta americana
O ministro iraniano disse ainda ter recebido mensagens por canais diplomáticos indicando que os EUA negam envolvimento no ataque. No entanto, o Irã exige uma condenação pública por parte dos EUA. “Mensagens privadas são insuficientes. Se os EUA não estão envolvidos, devem condenar o ataque e se distanciar dele”, declarou.
O presidente Donald Trump elogiou a ofensiva israelense, afirmando que ela foi necessária para impedir que o Irã avance em seu programa nuclear. Ainda assim, afirmou que “trabalha para um acordo entre Irã e Israel”.
Programa nuclear e contexto internacional
Israel alega que o Irã está construindo armas nucleares, o que representaria um “risco existencial” ao Estado judeu. Teerã nega a acusação e aponta que, ao contrário de Israel, assina e cumpre o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), permitindo inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Israel, por sua vez, nunca confirmou oficialmente possuir armas nucleares, mas estima-se que tenha cerca de 90 ogivas, segundo organizações como a Federação de Cientistas Americanos (FAS).
A AIEA aprovou recentemente uma resolução contra o Irã, acusando o país de descumprir obrigações. Teerã rebateu, classificando a decisão como “politicamente motivada” e orquestrada por potências ocidentais sob influência de Israel.
Para o professor Mohammed Nadir, da Universidade Federal do ABC, a AIEA é controlada por interesses dos EUA. “O Irã permite inspeções e declara fins pacíficos. Israel, que nunca aceitou inspeções, quer manter sua hegemonia nuclear na região”, afirmou.
Robinson Farinazzo reforça: “Se o Irã quisesse a bomba, já teria feito. Israel acusa o Irã há 20 anos. Isso é discurso repetido. O Irã tem capacidade tecnológica, mas ainda não optou pela arma nuclear”.