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Fraude bilionária no INSS: Ambec é a terceira entidade que mais descontou valores de aposentados em 2024

Entidade ligada a grupo investigado por fraudes é suspeita de ter descontado R$ 231,3 milhões de forma irregular. Associação nega irregularidades e afirma também ser vítima.

Por Redação

A Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) é apontada como a terceira maior responsável por descontos suspeitos em aposentadorias do INSS em 2024. De acordo com investigações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), a entidade teria promovido retenções estimadas em R$ 231,3 milhões, o equivalente a 8,8% do total descontado por associações em todo o país.

As informações constam no inquérito que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada no fim de abril, e que apura um suposto esquema bilionário de desvio de recursos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Desde 2016, mais de R$ 7,99 bilhões foram descontados diretamente da folha de pagamento desses beneficiários, quase sempre sem autorização formal.

A Ambec é suspeita de integrar um grupo de entidades controladas por Mauricio Camisotti, empresário do setor de saúde já investigado por outras irregularidades. O inquérito aponta que a associação teria sido dirigida por pessoas ligadas a Camisotti, algumas delas com vínculos profissionais, familiares e societários.

Rápido crescimento e ligações suspeitas

Criada em 2006 e com sede na Vila Olímpia, em São Paulo, a Ambec tinha apenas três associados em dezembro de 2021. Em dois anos, esse número saltou para mais de 600 mil. Os descontos começaram em 2022, com R$ 25 milhões, subiram para R$ 91,4 milhões em 2023 e ultrapassaram R$ 231 milhões em 2024.

O inquérito da PF também aponta a existência de outras entidades supostamente controladas pelo mesmo grupo empresarial: a União dos Servidores Públicos do Brasil (Unsbras) e o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap). Juntas, essas três entidades respondem por 17,3% dos descontos feitos em 2024, somando R$ 456,5 milhões, mais que a campeã isolada até então, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), com R$ 435 milhões.

Rede de empresas e lavagem de dinheiro

Segundo a PF, os recursos oriundos desses descontos seguiram para diversas empresas ligadas ao grupo THG (Total Health Group), do qual Camisotti seria o controlador informal. Entre elas, a Prevident, que recebeu R$ 16,3 milhões da Ambec entre agosto de 2023 e abril de 2024. Parte desse montante teria sido repassada à Brasília Consultoria Empresarial, ligada a Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, apontado como lobista e operador do esquema.

Outra empresa citada é a Benfix, que teria atuado como operadora financeira, redistribuindo valores entre associações, o que, segundo os investigadores, configuraria tentativa de ocultar a origem ilícita dos recursos. A Rede Mais Saúde, ligada ao grupo, também recebeu quase R$ 18 milhões da Ambec e da Cebap.

Defesa

Procurada, a Ambec afirmou que não capta associados diretamente e que, se houve qualquer fraude, a entidade também seria vítima. Disse ainda que, desde abril de 2024, suspendeu novas afiliações enquanto revisa seus processos de conformidade com os novos protocolos de biometria exigidos pelo Dataprev e pelo INSS.

Em nota, os advogados da entidade alegam que a operação da PF causou surpresa, pois os mesmos fatos já estariam sendo apurados pela Polícia Civil de São Paulo, com colaboração espontânea da associação desde 2022. A defesa também informou que a Ambec presta diversos serviços aos associados, como telemedicina, plano odontológico e auxílio funeral.

Mauricio Camisotti, por sua vez, nega qualquer irregularidade e afirma ser alvo de “julgamento antecipado”. Ele já havia sido citado na CPI da Covid, em 2021, como possível financiador oculto de uma empresa envolvida na tentativa de compra de vacinas indianas superfaturadas. O negócio foi cancelado após denúncias de corrupção.

As empresas Benfix e Rede Mais Saúde também negam participação no grupo THG. Ambas afirmam que apenas prestam serviços às associações investigadas, sem qualquer envolvimento na gestão ou captação de associados. A Rede Mais reforçou que os atendimentos mencionados no inquérito foram feitos dentro dos contratos e não comprovam vínculo exclusivo com a Ambec.

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