Vitória conservadora na Alemanha: CDU lidera negociações para novo governo em meio à ascensão da extrema-direita
A aliança conservadora que saiu vitoriosa nas eleições de domingo (23) na Alemanha já iniciou as negociações para formar um novo governo. O processo acontece em um cenário de fortalecimento da extrema-direita, que alcançou um crescimento histórico no parlamento.
Com a apuração dos votos concluída, o Partido Social-Democrata (SPD), do atual primeiro-ministro Olaf Scholz, obteve seu pior resultado histórico e caiu para a terceira colocação no Bundestag. Em contrapartida, o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), liderado por Alice Weidel, dobrou sua participação em relação a 2021, consolidando-se como a segunda maior força política do país.
“Ninguém na Europa conseguiu se estabelecer como um partido popular em tão pouco tempo. Estamos em ascensão”, declarou Weidel. O AfD enfrenta resistência política, com vários de seus diretórios classificados oficialmente como “extremistas” pelas autoridades alemãs.
O partido mais votado foi a União Democrata-Cristã (CDU), que governou a Alemanha por 16 anos sob a liderança de Angela Merkel. Agora, o partido conservador será liderado por Friedrich Merz, um político considerado mais conservador que Merkel e com credibilidade na área econômica devido à sua experiência no setor privado.
A cientista política Brigitte Weiffen destacou que os principais desafios do novo governo serão a questão migratória, com parte do eleitorado exigindo regras mais rigorosas, a recuperação econômica e o fortalecimento do protagonismo alemão na União Europeia, especialmente em meio às mudanças na política externa dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump.
“Será necessária uma liderança mais forte e declarações mais firmes para posicionar a Alemanha como um poder influente na União Europeia”, afirmou Weiffen.
Formação do novo governo
Friedrich Merz afirmou na segunda-feira (24) que pretende manter boas relações com os Estados Unidos, mas reconheceu que o interesse norte-americano na Europa está diminuindo. Para governar, ele precisará garantir o controle de 316 dos 630 assentos no Parlamento. A CDU conquistou 208 cadeiras, o que significa que serão necessárias alianças para formar uma maioria.
O período de negociação deve se estender por semanas ou até meses. No entanto, um ponto parece certo: a extrema-direita não será incluída na coalizão governamental, respeitando um pacto histórico entre os principais partidos alemães que buscam impedir a ascensão da extrema-direita ao poder desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Repercussão internacional
O resultado da eleição alemã teve grande repercussão global. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, celebrou a vitória conservadora e escreveu em suas redes sociais: “Grande dia para a Alemanha e para os Estados Unidos”. Segundo ele, o resultado reflete o cansaço dos eleitores alemães com políticas de imigração consideradas ineficazes.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também parabenizou Friedrich Merz pela vitória. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, felicitou o líder da CDU e ressaltou a importância da parceria entre Brasil e Alemanha na defesa da democracia, do multilateralismo e dos direitos humanos.
O presidente francês, Emmanuel Macron, conversou com Merz logo após o resultado das eleições, com foco nas estratégias para a guerra na Ucrânia. O líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, expressou esperança de que a Alemanha continue apoiando as negociações de paz no conflito contra a Rússia.