HOJE FOI UM COMEDIANTE. AMANHÃ PODE SER VOCÊ !
É público e notório que, nesta semana, o comediante Léo Lins foi preso e condenado a oito anos de reclusão por um “delito fatal”: contar piadas em um show de humor. Um novo e lamentável capítulo na história da liberdade de expressão. Um humorista, cuja profissão é provocar riso, foi encarcerado simplesmente por fazê-lo em um ambiente próprio para isso. Além da prisão em regime fechado, foi condenado a pagar uma indenização de R$ 300 mil e uma multa de R$ 1,5 milhão. O antagônico que, nesta mesma semana, um funkeiro carioca foi custodiado por apenas 04 dias apesar de suas músicas serem recheadas de menções a facções criminosas, tráfico e armamentos de guerra. Demonstrando que o Brasil é uma nação que vive a era da aversão: Certo torna-se incerto, e o que antes se duvidava, passa por verdade.
Antes de uma análise concreta, vale destacar que, em países dominados por regimes como o Estado Islâmico, programas de humor são censurados. Em ditaduras como China e Coreia do Norte, qualquer forma de arte que confronte o regime é proibida. Ainda nesse viés, em uma célebre citação do ensaísta israelita Amos Oz, em sua palestra sobre ´´Como curar um fanático´´, ele afirma que ´´o fanático se cura com literatura e humor´´. Desde os primórdios o humor tem como papel fomentar a crítica social, agir como uma cura somado a um modelo de resistência. Como defende Danilo Gentili, a arte “não frauda o INSS, não estimula golpes, não mata gente pobre de fome, não desvia recursos da saúde e, muito menos, incentiva ódio ou preconceito”. Arte é arte, da mesma forma que piadas são piadas. Portanto a censura, o autoritarismo as ideias impostas, a censura a qualquer espécie de pensamento, arte ou indagação, a censura a QUALQUER pessoa, isso ninguém deveria aceitar.
O jornalista e correspondente do New York Times, Larry Rohter, ao estudar a cultura brasileira, afirmou que ela tem sua riqueza justamente quando a arte, ao provocar o riso ou a dança, também exorta o pensamento. Diante dessa ideia devemos compreender que comédia, música ou literatura — mesmo sendo, muitas vezes, sustentadas por fantasia, ficção, hipérboles, trocadilhos, brincadeiras, provocações ou sensações de alívio — também são veículos de crítica, reflexão e insubmissão. Tendo isso em vista isso, é importante captar que a liberdade a qualquer forma artística deve ser protegida.
Liberdade de expressão não é permitir apenas o que agrada, mas também aquilo que desagrada. Esta geração considera democrata quem pensa, fala e age como ela, no entanto, os que discordam são taxados de opressores, preconceituosos e, por isso, calados. Não há como fatiar a liberdade de expressão: ou todos têm ou ninguém tem. Certa feita lendo uma análise do jornalista Luís Lacombe, ele defendeu: ´´Toda gente tem o direito pela Liberdade de expressão. Até os ´idiotas´, haja vista que também são gente´´; Em outras palavras: ninguém deve ter o monopólio do que é ou não é pensamento válido. Todavia, segue a nova democracia: ou pensa como a cartilha, ou não pensa; segue a nova estrutura social: deve-se escutar todo mundo, exceto quem eles decidiram que não merecem ser escutados. Isso é amar o ódio, todavia, o ódio mais fofinho e engraçadinho do mundo.
Hoje foi um comediante condenado por piadas. Amanhã, pode ser um jornalista punido por uma pergunta, um cantor por uma letra, um escritor por uma história, ou um padre/pastor por expor um pecado. O diferencial de uma tirania é o controle total da cultura. E, quando a cultura perde o direito ao livre pensamento, o próximo a ser censurado pode ser você — por uma simples piada no churrasco da família.