Diretora do Federal Reserve desafia Trump e rejeita demissão anunciada pelo presidente
A economista Lisa Cook, diretora do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), afirmou nesta segunda-feira (25) que não deixará o cargo, apesar do anúncio de demissão feito pelo presidente Donald Trump. Em comunicado divulgado por meio de seu advogado, Cook classificou a decisão como ilegal e declarou que o republicano não tem autoridade para afastá-la.
“O presidente Trump alegou ter me demitido ‘por justa causa’ quando não há justa causa prevista em lei, e ele não tem autoridade para fazê-lo”, afirmou a diretora, acrescentando que não pretende renunciar. “Continuarei a cumprir meus deveres para ajudar a economia americana, como venho fazendo desde 2022.”
Trump alega fraude hipotecária
O presidente anunciou a demissão pelas redes sociais e, em carta enviada a Cook, disse não confiar na integridade da economista. Ele citou suposta fraude hipotecária envolvendo a declaração de duas residências como principais para obter melhores condições de financiamento.
“À luz de sua conduta enganosa e potencialmente criminosa em um assunto financeiro, eles não podem — e eu não posso — ter tal confiança em sua integridade”, escreveu Trump.
O republicano baseou-se em um dispositivo da lei de criação do Federal Reserve que prevê a demissão de membros do conselho “por justa causa”. Juristas, no entanto, apontam que essa interpretação é frágil, já que a legislação garante mandatos fixos e independência ao colegiado.
Defesa promete contestar decisão
Segundo o advogado de Cook, todas as medidas legais serão adotadas para barrar o afastamento, considerado “ilegal”. À BBC, a diretora disse ter tomado conhecimento das acusações pela imprensa e afirmou estar reunindo documentos para esclarecer o caso.
Pressão sobre a independência do Fed
A iniciativa de Trump é inédita e amplia a pressão do presidente contra a autonomia do banco central americano. Nos últimos meses, o republicano já vinha criticando o presidente do Fed, Jerome Powell, pela demora em reduzir os juros.
Cook, indicada em 2022 pelo então presidente Joe Biden, é a primeira mulher negra a integrar o Conselho de Governadores do Fed — órgão composto por sete membros, que participam também do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), responsável pela definição da política de juros.
A saída dela, somada à renúncia antecipada da também diretora Adriana Kugler, abriria espaço para que Trump indicasse nomes alinhados à sua agenda econômica.
Contexto econômico
O debate ocorre em meio à pressão política por cortes mais agressivos na taxa de juros. Embora a elevação das taxas seja usada como instrumento para controlar a inflação, o encarecimento do crédito também desacelera a economia e afeta a popularidade presidencial.
Trump defende que os juros deveriam estar “dois ou três pontos abaixo” do nível atual.