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Desinformação como ferramenta de controle: quando a ignorância se torna política de Estado

A desinformação deixou de ser apenas a ausência de dados corretos. Hoje, ela representa um verdadeiro projeto de poder. Como afirma o jurista e escritor Tiago Pavinatto, “o ignorante não grita porque não vê o cárcere. Não protesta porque acha que a cela é o mundo” (Direita na Jaula, 2025). A frase não é apenas provocativa — ela traduz uma realidade: regimes autoritários e sistemas ideológicos buscam moldar consciências apagando o conhecimento.

Na literatura, esse alerta aparece em obras como O céu que nos oprime, de Christine Leunens, ambientada no fim da década de 1930. Nela, acompanhamos a trajetória de um jovem seduzido pela propaganda nazista. Em certo ponto, a narrativa remete a um episódio sombrio da história: a queima pública de livros de autores judeus na Alemanha nazista — obras de Freud, Einstein e tantos outros foram consumidas pelo fogo, substituídas por títulos “arianos” moldados à ideologia do Terceiro Reich. O objetivo era claro: destruir o saber para controlar o pensamento.

A manipulação da informação não ficou no passado. Hoje, ela ressurge sob novas roupagens — menos violentas, porém igualmente perigosas. Como aponta Pavinatto, “a jaula da desinformação é cruel porque tem aparência de liberdade. Você pode escrever, criticar e até rir — desde que seja do lado certo, contra os alvos certos”.

Vivemos, portanto, um tempo em que a ignorância se normaliza, e pior: é celebrada. Há quem se orgulhe de não se interessar por política, como se isso fosse virtude. Platão já alertava, há séculos: “Os que não gostam de política serão governados por aqueles que gostam”. A apatia não é neutra — ela entrega o poder aos menos preparados.

A resistência começa pelo conhecimento. Como reforça Pavinatto, o saber exige método, estudo, esforço. A verdadeira liberdade não é concedida: é conquistada com consciência. É papel de cada cidadão buscar referências sólidas, investigar os fatos, participar dos debates — e não aceitar passivamente os discursos prontos que reforçam a zona de conforto.

O perigo da desinformação está justamente em seu disfarce. Parece liberdade, mas é contenção. Parece autonomia, mas é direção ideológica. E enquanto isso, os alheios ao conhecimento não apenas se calam — tornam-se instrumentos involuntários de um sistema que os mantém ignorantes.

Por isso, o antídoto contra a ignorância não é o grito vazio — é o estudo constante. O escritor Daniel Kahneman afirmou: “Quem possui conhecimento é ouvido e respeitado. Os que o desprezam, tornam-se irrelevantes para a construção de qualquer comunidade.”

Machado de Assis já dizia: “Uma nação se faz com livros.” E é a partir dessa premissa que se constrói o futuro. O estudo, hoje, é mais do que uma escolha pessoal: é um ato de resistência. Se você deseja fazer parte da solução, a resposta é simples — estude.

REFERÊNCIAS

LEUNENS, Christine. O céu que nos oprime. São Paulo: Bertrand Brasil, 2020.

FIORIN, Luiz. Elementos da Análise de Discurso. 15°. São Paulo: Contexto, 2008

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2021.

LACOMBE, LUIS. 101 crônicas escolhidas. São Paulo: LVM Editora, 2023.

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