Conferência do Clima de 1972: Quando o Brasil Enfrentou os Países Ricos em Defesa do Direito ao Desenvolvimento
Em 1972, durante a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, o Brasil teve uma atuação marcante e corajosa sob a liderança do embaixador Araújo Castro. Nomeado pelo regime militar, Araújo Castro era um diplomata respeitado, que já havia ocupado o cargo de ministro das Relações Exteriores no governo João Goulart. Apesar do endurecimento político da época, ele não foi cassado, sendo poupado pelo prestígio que acumulava.
Na conferência, Araújo Castro protagonizou um dos debates mais importantes da diplomacia brasileira. Em interlocução com Patrick Moynihan — então embaixador dos Estados Unidos na ONU e posteriormente senador por diversos mandatos —, o diplomata brasileiro expôs com firmeza a posição do país: a preocupação com o meio ambiente não poderia ser utilizada como argumento para restringir o desenvolvimento das nações emergentes.
Segundo registros históricos, Araújo Castro argumentou que, após o congelamento do poder militar com o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), as potências buscavam agora limitar o poder econômico das nações em desenvolvimento. “O seu desenvolvimento não ameaça o meio ambiente. O meu ameaça!”, sintetizou o brasileiro, ao criticar a tentativa dos países desenvolvidos de estabelecer restrições ambientais que poderiam frear o crescimento econômico dos demais.
O Brasil, ao lado de países africanos, da Índia, da então União Soviética e da China, liderou a resistência ao que considerava uma política desigual. A mensagem foi clara: não poderia haver uma política ambiental global sem garantir, ao mesmo tempo, o direito ao desenvolvimento.
Esse episódio, considerado uma vitória diplomática do Brasil frente aos Estados Unidos e à Europa Ocidental, marca um momento em que o país exerceu um protagonismo internacional vigoroso na defesa dos interesses das nações em desenvolvimento.
Décadas depois, porém, o ex-ministro Aldo Rebelo lamenta que essa postura tenha se enfraquecido. “Depois fomos abdicando do direito ao desenvolvimento, e só restou, na Amazônia, a luta em defesa das seringueiras e das castanheiras”, afirmou. Ele também destacou que hoje milhões de brasileiros, incluindo milhares de indígenas, vivem na região amazônica em condições sociais precárias: “O município brasileiro que lidera o analfabetismo, segundo o IBGE, é justamente aquele com a maior população indígena do Brasil.”
Para Rebelo, é preciso reconhecer que muitos dos discursos ambientais internacionais não necessariamente priorizam as populações locais, mas sim interesses distantes das realidades vividas na Amazônia.