Chuvas 50% abaixo da média geram “seca verde” e colocam agricultura do Piauí em risco
O estado do Piauí enfrenta um dos períodos mais secos dos últimos anos. Entre dezembro de 2024 e março de 2025, o volume de chuvas ficou cerca de 50% abaixo do esperado, segundo dados da Secretaria Estadual de Defesa Civil. Atualmente, 129 municípios estão em situação de emergência por causa da seca e da estiagem prolongada.
A distribuição das chuvas foi extremamente irregular nos últimos meses, tanto em volume quanto em frequência, de acordo com informações da Agência Nacional de Águas (ANA), do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Produção agrícola e pecuária ameaçadas
O cenário é particularmente crítico no Sul do estado, onde se concentram importantes polos da agricultura e da pecuária. A irregularidade das chuvas afetou diretamente o calendário de plantio e o desenvolvimento das lavouras.
Segundo Werton Costa, diretor de adaptação e mitigação da Defesa Civil, muitos produtores acreditaram na normalidade da estação chuvosa e acabaram enfrentando prejuízos em sequência. “Houve perdas significativas em três momentos: no final de 2024, depois em janeiro e fevereiro, e agora, com a continuidade da estiagem em março, a situação piorou ainda mais, afetando também as áreas de pasto”, explicou.
A seca verde: uma ilusão perigosa
Um dos fenômenos mais marcantes dessa crise hídrica é o que os especialistas chamam de “seca verde”. Apesar de a vegetação aparentar estar saudável por conta de alguma chuva esparsa, a realidade no solo é bem diferente. A umidade insuficiente não permite o desenvolvimento pleno das culturas, o que resulta em lavouras verdes, mas improdutivas.
Em municípios como Santa Cruz do Milagres, por exemplo, a chuva praticamente desapareceu desde janeiro. O Monitor de Secas do Brasil aponta que o estado não enfrentava uma estiagem tão severa durante o período chuvoso há pelo menos oito anos.
Realidade dura no campo
Em Fartura do Piauí, o maior reservatório da cidade está praticamente seco. A última chuva registrada foi em novembro de 2024. A agricultora Valdineide Maciel descreve a situação com tristeza: “A gente planta com tanto esforço, tanto carinho, e vê tudo indo embora. Dá um aperto no coração”.
Já em Santa Cruz do Milagres, o secretário de agricultura, Francisco Lima, destaca que as perdas estão próximas de 90%: “Os agricultores estão enfrentando um cenário muito difícil. A maioria das lavouras já está praticamente perdida”.
Com o agravamento da situação, o Ministério Público do Piauí (MPPI) recomendou até a suspensão de festas em municípios afetados pela seca, buscando priorizar ações de emergência.