Aldo Rebelo: Tarifas dos EUA trarão prejuízos à economia brasileira e exigem reação diplomática coordenada
As tarifas impostas ao Brasil pelo governo do ex-presidente norte-americano Donald Trump continuam provocando repercussão e preocupação em setores estratégicos da economia nacional. Para o ex-ministro Aldo Rebelo, essas medidas comerciais representam uma ameaça concreta a diversas cadeias produtivas brasileiras — da indústria de alta tecnologia, como a Embraer, à agroindústria, fruticultura e demais setores ligados ao agronegócio.
Em análise crítica, Aldo destacou que o Brasil não deve alimentar ilusões sobre a natureza dessas relações com os Estados Unidos. Segundo ele, a resposta brasileira deve evitar o confronto direto e apostar em articulações diplomáticas mais amplas, com a formação de alianças com países que enfrentam desafios semelhantes.
“O Brasil precisa agir diplomaticamente. Não buscar a linha do confronto. É preciso procurar aliados, como o Canadá e o México, que também sofrem com essas imposições tarifárias”, afirmou.
Segundo o ex-ministro, juntos, Brasil, México e Canadá somam uma população de mais de 370 milhões de habitantes — número superior ao da população norte-americana — e reúnem um PIB combinado de cerca de US$ 10 trilhões em paridade de poder de compra, o que ampliaria significativamente a capacidade de negociação em bloco.
Relações com os EUA: entre cooperação e disputa
Aldo Rebelo relembrou os altos e baixos históricos nas relações entre Brasil e Estados Unidos, marcadas por momentos de forte cooperação e também de tensão. Ele destacou que os EUA foram o primeiro país a reconhecer a independência brasileira, ainda no século XIX, além de terem apoiado a proclamação da República em 1889.
Durante a Segunda Guerra Mundial, houve um dos períodos de maior proximidade: os Estados Unidos utilizaram bases aéreas brasileiras estratégicas e, em troca, forneceram recursos que ajudaram no processo inicial de industrialização nacional.
Contudo, ele também lembrou os episódios de interferência norte-americana em momentos sensíveis da política interna brasileira, como o apoio ao golpe militar de 1964 e, posteriormente, à oposição ao regime militar, principalmente no período do governo Geisel, com críticas aos programas nuclear e espacial do Brasil.
“Os Estados Unidos nunca gostaram do programa nuclear brasileiro, nem do acordo com a Alemanha. Conspiraram contra o governo Geisel e também espionaram a presidente Dilma. Não podemos ter ilusões”, afirmou Aldo.
Cooperação com independência
A conclusão de Rebelo é clara: o Brasil deve manter relações diplomáticas maduras e pragmáticas com os Estados Unidos, sem idolatria ou demonização, mas sempre com foco nos próprios interesses nacionais.
“Os Estados Unidos querem fazer a América grande. Não querem fazer o Brasil grande. Cabe ao Brasil se fortalecer por conta própria e manter com os EUA relações de cooperação, harmonia e, acima de tudo, independência.”