Bancos lançam pacotes de serviços não bancários para compensar perdas com tarifas e atraem críticas de clientes
Com a crescente perda de receita causada pela popularização do Pix e a digitalização dos serviços financeiros, os principais bancos do país estão apostando em combos de serviços não bancários como forma de compensar a queda nas tarifas tradicionais. As ofertas, que incluem de streamings e créditos para celular até assistência pet e seguros, têm gerado tanto interesse quanto reclamações entre os clientes.
Esses pacotes funcionam como uma espécie de “cesta de benefícios”, cobrados mensalmente direto na conta corrente, com preços que variam de R$ 16 a R$ 99, a depender da instituição e dos serviços oferecidos. Apesar do apelo comercial — que tenta substituir a impopular cobrança de tarifas bancárias por serviços de interesse do consumidor —, muitos clientes relatam cobranças sem consentimento, especialmente em sites como Reclame Aqui e Consumidor.gov.
Entre os exemplos de pacotes disponíveis:
- Itaú Unibanco – Combinaqui: entre R$ 16 e R$ 47 por mês, com opções como Deezer, seguro celular, assistência residencial e saúde.
- Banco do Brasil – Clube de Benefícios: de R$ 29,90 a R$ 99 por mês, com acesso a telemedicina, descontos em farmácias e assistência pet.
- Santander – Combo Santander+: entre R$ 29,90 e R$ 69,90 mensais, incluindo Globoplay, assistência automotiva e residencial.
- Caixa – Clube Caixa: pacotes entre R$ 29,90 e R$ 79,90, com ingressos de cinema, streaming, crédito para pizza e curso de inglês online.
Segundo balanços das instituições, o modelo ajuda a recuperar parte da perda de receitas. O Banco do Brasil, por exemplo, arrecadou R$ 990 milhões com seu Clube de Benefícios desde 2023 — quase o mesmo valor da queda de receitas com tarifas entre 2019 e 2024 (R$ 1,1 bilhão).
Especialistas veem a estratégia como uma forma de fidelizar o cliente e agregar valor aos serviços bancários, hoje fortemente pressionados pela concorrência das fintechs e pelo uso massivo do Pix. “Os bancos tentam oferecer comodidades ligadas ao cotidiano do cliente, como streamings ou serviços para pets, para justificar a cobrança”, explica Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating.
Bancos defendem personalização e facilidade de cancelamento
As instituições afirmam que os pacotes fazem parte de uma estratégia de personalização dos serviços e que a adesão e cancelamento podem ser feitos facilmente, seja por canais digitais ou em agências.
“O cliente pode personalizar os pacotes e cancelar a qualquer momento. Monitoramos constantemente a satisfação dos usuários”, informou o Itaú em nota.
O Banco do Brasil afirma que a adesão nas agências exige autenticação dupla (senha ou biometria), o que garante que o cliente esteja ciente da contratação.
Procon-SP alerta consumidores para cobrança indevida
Apesar da promessa de flexibilidade, o Procon-SP alerta para práticas abusivas e orienta que os consumidores façam uma análise detalhada antes de contratar os combos. “É preciso avaliar se os serviços serão de fato utilizados e verificar o extrato regularmente”, afirma Patrícia Dias, diretora jurídica do órgão.
Se houver cobrança indevida, o consumidor tem direito ao estorno em dobro do valor, conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor.
Destaques:
- Pacotes tentam compensar queda de R$ 4,6 bilhões nas receitas com tarifas;
- Reclamações de cobranças sem consentimento se acumulam;
- Bancos defendem estratégia como forma de agregar valor aos serviços;
- Especialistas recomendam atenção aos contratos e monitoramento de cobranças.