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Brics Pay pode desafiar hegemonia do dólar no sistema financeiro global

O sistema financeiro internacional vive um momento de transformação. Entre tensões geopolíticas e disputas econômicas, o Brics Pay, iniciativa do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — agora ampliado com países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Indonésia — surge como uma possível alternativa ao domínio do dólar.

Criado para permitir transações diretas em moedas locais e digitais de bancos centrais, o Brics Pay elimina intermediários e reduz custos de conversão. O modelo já começa a ganhar espaço com acordos bilaterais, como o firmado entre Brasil e China para operações em reais e yuans. Em 2024, moedas do Brics representaram 6,4% das transações via Swift, percentual ainda modesto, mas em crescimento acelerado.

O peso do dólar e o contra-ataque do Brics

Atualmente, o dólar participa de 84% das transações globais, segundo o Banco de Compensações Internacionais, e segue como pilar do sistema financeiro ocidental. Porém, a exclusão da Rússia da rede Swift em 2022 expôs como a moeda americana pode ser usada como instrumento de pressão política.

Em resposta, Rússia e China já criaram mecanismos próprios de pagamentos internacionais (SPFS e CIPS), enquanto o Brics aposta no Brics Pay como alternativa multipolar. A desdolarização, nesse contexto, é vista não apenas como uma estratégia técnica, mas também como um ato político contra a instrumentalização do dólar.

Resistências e projeções

O movimento tem gerado reação nos Estados Unidos. De volta ao poder em 2025, Donald Trump elevou tarifas e alertou que uma moeda comum do Brics poderia “colapsar a economia americana”. Ainda assim, o bloco continua a se expandir: mais de 50 países já manifestaram interesse em aderir, entre eles México, Uruguai e Colômbia.

Com novos membros e o ingresso de gigantes do petróleo como Arábia Saudita, projeções indicam que o Brics+ poderá responder por 37,9% do PIB global em paridade de poder de compra até 2028, ultrapassando o G7. Bancos centrais do grupo acumulam anualmente mais de mil toneladas de ouro, reforçando a estratégia de reduzir a dependência do dólar.

Especialistas divididos

Economistas divergem sobre o impacto do Brics Pay. Para Paul Krugman, Nobel de Economia, a preocupação com a desdolarização é “muito barulho por quase nada”, ainda que reconheça que o domínio do dólar não será eterno. Já o russo Sergey Glazyev defende a criação de uma moeda lastreada em commodities, mais estável que dólar ou euro. Zhou Xiaochuan, ex-presidente do Banco Central chinês, pede uma reforma mais ampla, com fortalecimento do SDR, ativo de reserva do FMI.

Outros, como o francês Jacques Sapir, apostam que até 80% do comércio do Brics poderá migrar para fora do dólar nos próximos cinco anos, impulsionado pelo Brics Pay e pelo Brics Clear, mecanismos já em desenvolvimento.

Entre desafios e oportunidades

Diferenças internas — como as disputas entre China e Índia — e a falta de uma infraestrutura tecnológica integrada ainda representam obstáculos. A pressão ocidental com sanções e barreiras comerciais também desafia a coesão do bloco.

Mesmo assim, o Brics Pay é visto como um símbolo de resistência e de mudança estrutural no sistema financeiro. Mais do que uma plataforma, é a aposta de um conjunto de países para reescrever as regras da economia global e reduzir a dependência de uma moeda única.

O dólar continua no centro das transações internacionais, mas sua supremacia, pela primeira vez em décadas, já não parece intocável.

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