PGR investiga corrupção em licitação milionária da COP30; PM preso com R$ 5 milhões é peça-chave no caso
A Procuradoria-Geral da República (PGR) identificou indícios de corrupção em uma licitação de R$ 142 milhões relacionada à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), prevista para Belém (PA). A descoberta surgiu a partir da prisão, em outubro de 2024, do policial militar Francisco Galhardo, detido com R$ 5 milhões em espécie em Castanhal, a 70 km da capital paraense.
A operação ocorreu dois dias antes das eleições municipais, após denúncia anônima. Galhardo foi flagrado pela Polícia Federal (PF) entregando R$ 380 mil a Geremias Hungria, funcionário de uma fazenda pertencente ao deputado federal Antônio Doido (MDB-PA). Ambos foram presos em flagrante por crime eleitoral.
No celular apreendido com o PM, a PF encontrou conversas sobre compra de votos, mas também tratativas que levantaram suspeitas sobre esquemas de corrupção envolvendo obras da COP30. Segundo a PGR, Francisco Galhardo atuava diretamente para o deputado Antônio Doido, realizando segurança pessoal, transporte e entrega de valores.
Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) indicam que o policial sacou R$ 48,8 milhões entre 2023 e 2024, oriundos de contas de duas construtoras: a J.A Construcons, de Andréa Dantas (esposa do deputado), e a JAC Engenharia, de propriedade de Geremias Hungria. Ambas venceram licitações milionárias no Pará, incluindo um contrato de R$ 142 milhões e outro de R$ 123 milhões para obras ligadas à COP30.
Conversas comprometedoras
Mensagens obtidas pela PGR mostram que, no dia 20 de setembro de 2024 — data em que o consórcio formado pelas empresas venceu a licitação de R$ 142 milhões —, Galhardo sacou R$ 6 milhões e tentou contato com o secretário de Obras do Pará, Ruy Cabral, responsável pelo certame.
Nos diálogos, o secretário teria chamado o PM para um encontro na sede da Secretaria de Obras (Sedop). Em áudio, Galhardo afirma ter deixado algo com “Andreia” — nome idêntico ao da esposa do deputado. A PGR afirma que as conversas sugerem crimes de corrupção ativa e passiva.
Outro encontro entre o PM e o secretário teria ocorrido em 24 de setembro, quatro dias após a licitação.
Cancelamento da licitação
O governo do Pará inicialmente negou que a obra fizesse parte das intervenções da COP30, mas reconheceu a ligação após ser confrontado com informações do próprio site oficial. A gestão estadual informou que o processo licitatório foi revogado em dezembro de 2024, após a prisão do PM e a repercussão das suspeitas.
Sobre Ruy Cabral, o governo disse que ele “não participou de reuniões com o policial, tampouco recebeu bens, valores ou benefícios” e que não há qualquer investigação formal contra o secretário.
A defesa do deputado Antônio Doido repudiou o que chamou de “vazamento de informações sigilosas” e afirmou que o parlamentar já prestou esclarecimentos, negando qualquer irregularidade.